Após mais de uma década de lento definhamento, eis finalmente que se pode já declarar o óbito efetivo do Serviço de Urgência do Hospital dos Covões. Uma instituição de referência, que durante décadas serviu exemplarmente as populações de Coimbra e do Baixo Mondego, deixou de funcionar e “fechou discretamente a porta”. Isso mesmo foi comunicado internamente pelo Diretor da Urgência Geral da ULS Coimbra, Dr. João Porto, em termos que merecem ser anunciados à população, sobretudo, visto que para o exterior nada, absolutamente nada, foi dito.
Com efeito, na comunicação interna consta que “nas situações em que não haja nenhum médico alocado à Urgência Geral, por insuficiência da escala de Serviço de Urgência (SU)...” (o mais comum, dado que se trata de uma pequena equipa externa de médicos prestadores de serviços independentes que nunca se sabe quando aparecem ou se estão escalados, e de uma pequena equipa de internistas), “... será colocado um aviso escrito no secretariado de admissão de doentes a comunicar a falta de médicos e a informando sobre a existência de tempo de espera elevado para atendimento de situações pouco urgentes e não urgentes”.
Mais informa o Diretor da Urgência que, se, apesar desta informação, o utente ainda assim optar por permanecer no SU, então será “respeitada a sua vontade e em caso algum será sugerido pelo profissional de saúde o abandono do SU pelo doente”. Depois, se for excedido o “tempo limite previsto” (no mínimo, 4h, para “Azuis”, e 2 horas para “Verdes”) ou “por iniciativa do profissional de saúde” será efetuada uma “retriagem/reavaliação do doente”, podendo este ter de esperar outro tanto tempo por nova “retriagem/reavaliação” ou ser encaminhado para o “Serviço de Urgência Central”, no pólo HUC da ULS.
Fica pois internamente decretado o FIM do Serviço de Urgência do Hospital do Covões, que conta hoje apenas com uma pequena equipa de Médicos Internistas que assumem ao mesmo tempo a urgência externa (doentes que entram no Serviço de urgência) e a urgência interna (doentes com situações urgentes internados). Estes médicos na ausência de outras especialidades não podem garantir sozinhos a assistência diferenciada, designadamente a situações de:
- Quedas, com traumatismos nos membros, tórax ou na cabeça, pois não há médicos ortopedistas, nem neurocirurgiões na urgência;
- Perda de consciência, convulsões, perda de força numa parte do corpo, incapacidade de andar ou falar súbitas, pois não existe neurologista nesta urgência;
- Hemorragias intestinais ou gástricas, espinhas ou outros corpos estranhos na via digestiva, cálculos das vias biliares, pois não existe gastroenterologista nesta urgência;
- Feridas graves, acidentes ou quedas com traumatismo abdominal ou torácico, dores abdominais, pois existe unicamente 1 cirurgião na enfermaria, mas que sozinho não pode operar.
- Doenças urinárias com hemorragias, cálculos com obstrução das vias urinárias, doentes em diálise crónica, pois não existe urologista nem nefrologista nesta urgência;
- Doentes com doenças graves emergentes, que possam necessitar de cuidados intensivos, uma vez que já não existe equipa médica ou unidade de cuidados intensivos que assegure o tratamento destas situações no Hospital dos Covões.
Em todas estas situações a única alternativa é o envio para a urgência Central nos hospitais da Universidade.
Não se percebe como é que com instalações recentes e bem equipadas a urgência dos Covões tenha sido descurada de tal forma, que não passa agora de uma urgência básica, que não consegue garantir o atendimento da população que a ela recorre por falta de profissionais médicos e de especialidades básicas como cirurgia e ortopedia, entre outras.
A Direção do SMZC