ENTRE DUAS TEMPESTADES
O grupo de teatro do SMZC esteve em Chaves, de 2 a 4 de Novembro de 2023, para actuar nas Jornadas Ibéricas. Na viagem, fomos acompanhados pela Ciarán, que testou ao limite quer a robustez dos veículos, quer a perícia dos pilotos. Mas...surpresa das surpresas...chegados a Chaves , o ar era de serena tranquilidade, o que nos permitiu relaxar no hotel e fazer os preparativos necessários para a actuação.
A Dona Maria Clara ( Milá), proprietária da Adega Faustino, foi de enorme amabilidade e simpatia. O restaurante, herança dos pais, tinha sido inicialmente pertença do avô materno que, acabado de chegar do Brasil, comprou o espaço para abrir um negócio de vinhos. Espaço amplo, com um pé direito altíssimo, condições acústicas duvidosas...
Decorreu aqui a actuação dos Saltimbancos, durante o jantar das Jornadas Ibéricas, com algumas contrariedades que não merece a pena registar...
Na manhã seguinte Chaves estava à nossa espera, calma e serena, nas margens do Tâmega. Aí fomos nós pela zona ribeirinha, bem cuidada e limpa. Parámos no caminho das Poldras Romanas mas, por algum receio, fomos atravessar a ponte pedonal para a outra margem, até ao Bairro da Madalena. Passámos por um pequeno bosque de árvores seculares e um jardim e aí estava a Ponte do Trajano com o seu Padrão dos Povos, tão milenar quanto robusta.
Almoçámos na Taverna Benito, um espaço agradável e acolhedor, boa cozinha e bons petiscos.
E depois há tanto para visitar por aquelas ruas estreitas, com as suas casas estreitas encostadas em varandas de madeira, imensas varandas floridas, arrumadinhas, aconchegadas umas ás outras...
A Rua Direita. A Praça Camões. O Castelo de Chaves, com a sua torre de menagem. A Igreja de Santa Maria Maior, do século XII , e ao lado a Igreja da Misericórdia, de estilo barroco. Na mesma praça, o Museu da Região Flaviense e no topo ,o edifício da Câmara Municipal, antigo solar do Morgado de Vilar de Perdizes .
Chaves com o seu marco do km zero, início da EN2 que vai por aí abaixo até Faro, passando por lugares maravilhosos. Chaves, cidade de águas termais com diversas indicações terapêuticas. Mas não será necessário tomá-las nem banharmo-nos nelas...basta andar assim, sem stress, por estas ruas , atentos e observadores, para as maleitas se afastarem...Mas, caso seja mesmo necessário, temos aí as ruinas romanas das termas para visitar e as termas de Chaves, da era moderna, onde brota a água termal mais quente da Europa. Para terminar, visitámos o museu de arte contemporânea Nadir Afonso , da autoria de Sisa Vieira ,onde estão expostos muitos quadros da obra do pintor flaviense.
O jantar foi em Espanha, no restaurante Chaves do Couto, na aldeia de Meaus, em Couto Mixto.
Couto Mixto era um pequeno território da raia, que conseguiu ser independente do reino de Leão e Castela e de Portugal durante 700 anos. Aí coabitavam pacificamente galegos e portugueses. Não pagavam impostos, não cumpriam serviço militar, tinham os seus próprios órgãos de soberania eleitos democraticamente por períodos de três anos e transacionavam livremente mercadorias. Foram anexados contra sua vontade e o" camino privilexiado "deu lugar à rota do contrabando.
Na aldeia de Meaus não se vê ninguém à noite. Não há luzes acesas nas casas, dir-se-ia que não mora ninguém aqui. Não é fácil chegar ao restaurante, mas, depois de o encontrar, é uma agradável surpresa de acolhimento, de bom ambiente, de aconchego, de qualidade gastronómica, tudo ajudado por um bom vinho da quinta do Arcossó (português, como teve o cuidado de informar a nossa anfitriã, Lola).
Aqui chegados, ainda estava todo o grupo das caminhadas em perfeitas condições de encetar, na manhã seguinte, a rota do contrabando, quer chovesse quer fizesse sol! Porém, à medida que se aproximava sábado, chegava também o Domingos...
Na caminhada matinal teve que se fazer um re-arranjo: na impossibilidade de cumprirmos escrupulosamente a rota do contrabando- sob pena de irem mulas, contrabando e sabe-se lá mais o quê !!-rio Tâmega abaixo, em Outeiro Seco entroncámos no caminho de Santiago e fomos retomar o percurso inicial mais adiante, em Vila Verde da Raia . O que deveria ter sido um caminho na natureza, sempre junto à margem, exigiu por duas vezes atravessar cursos de água , com roupa e calçado, e à frente é que é o caminho !!
Caminhada de 12 quilómetros, com maravilhosas condições climáticas, convívio excelente, piquenique na borda do pinhal, objectivo superado!!
O almoço de sábado foi na pensão Flávia. Mais do que a comida, mais do que tudo isso, depois da debandada de benfiquistas a caminho do estádio, foi estar naquele lugar e ouvir o chef cantar e tocar e sentir que punha, na música, tanto ou mais sentimento do que depositou nos tachos.
Em Chaves, de 2 a 4 de Novembro de 2023,esteve o grupo de teatro do SMZC a actuar, o grupo de caminhadas do SMZC a caminhar e pelo meio, ainda registámos um roteiro turístico e gastronómico para quem quiser conhecer esta cidade incrível.
A caminho de nossas casas, fomos na companhia do Domingos .